sábado, 14 de março de 2009

Capítulo 2 - Fogo e Trevas II

O demônio de fogo e trevas se solidificou bem no centro da câmara subterrânea, e já apareceu agressivo, empunhando um enorme machado flamejante. Tinha três metros de altura e olhos em chamas.

Grammal, o semi-orc, aproveitou-se da vantagem. De onde estava, em pé sobre uma laje de pedra, ele ficava um nível acima do monstro, e não pensou duas vezes. Saltou com todo o vigor para fincar seu machado duplo no crânio da criatura.

Mirou entre os chifres, e acertou o golpe perfeito! Mas, então, aconteceu algo que o bárbaro não esperava. Em vez de a lâmina cravar fundo, ela foi repelida, sequer ferindo o demônio. Era como se a pancada perfeita, aplicada com toda a força, tivesse encontrado um muro de pedra, praticamente impenetrável.

Grammal escorregou para o chão e caiu desengonçado dentro do raio de ataque da fera. Nesse instante, Ares, o cavaleiro, tomou à frente e rodou sua espada, principiando um movimento ofensivo. Novamente, porém, a investida foi inútil. A arma passou raspando no abdome do monstro, sem nem mesmo arranhá-lo.

A resposta veio de maneira cruel, e Ares, posicionado mais próximo à besta, era o alvo agora. O demônio usou seu machado de fogo e acertou o cavaleiro no ombro. A força do impacto foi tanta que ele foi arremessado para o fundo da sala, e não fosse sua pesada armadura de metal teria sido feito em pedaços.

De trás de uma coluna tombada, Naga, o arqueiro, disparou duas flechas, que simplesmente bateram na carcaça da fera e caíram.

- A pele dele é como rocha vulcânica endurecida – anunciou Ares, recobrando a postura depois do impacto.

Mas a criatura não era imune a todos os tipos de ataque. Ela já se preparava para cortar Grammal ao meio quando Alana, a feiticeira, invocou um globo de pura energia mágica. Lançou a bola luminosa sobre o inimigo, e o raio bateu na fronte do monstro, queimando seu peito e parte do braço.

- Essa abominação só é afetada por mágica – avisou o Zamir, o bruxo, falando alto para que sua voz sobressaísse aos gritos diabólicos da fera.

- Não acho que os meus golpes de energia sejam o suficiente para matá-lo – reconheceu Alana -, mas podem feri-lo.

Ares e Grammal se juntaram na linha de frente, para uma segunda rodada de combate. Desta vez, o demônio atacou primeiro, e atacou duro. Usou o machado flamejante para acertar Grammal, que só não morreu porque foi rápido o bastante para se inclinar, minimizando a gravidade do corte. Ao se esquivar, contudo, tropeçou e caiu no chão. Foi quando a criatura pisou nele com os cascos de fogo, pressionando seu corpo contra o solo da câmara. Ares tentou encravar a espada no joelho do inimigo, mas a lâmina não penetrava.

A placa que protegia o tórax de Grammal era a única coisa que o mantinha vivo, mas esquentava a cada instante, feito chapa quente. Dentro em pouco, o semi-orc seria estorricado.

- Não tem jeito de feri-lo – repetiu Zamir, mas Alana tinha uma idéia.

A feiticeira tomou coragem e avançou à zona de combate. Ao mesmo tempo em que caminhava agachada, recitou um encantamento. Tocou a ponta do braço de Grammal, e os músculos do bárbaro ganharam mais robustez.

- É o encanto da força – percebeu Zamir.

- Levante-se agora, Grammal. Tente ficar em pé – disse Alana.

Com o corpo quase queimado, o semi-orc segurou o casco do demônio com as duas mãos e o ergueu. A fera estranhou, e logo deu um passo atrás, libertando a pisada. O que parecia impossível acontecera. A mágica de Alana havia deixado Grammal com a energia de 15 homens!

- Agora sim! – sorriu o bárbaro, levantado sua arma – Espere só até eu enfiar minha lâmina na sua barriga, cara de bode.

- Ainda não, Grammal. Segure seus golpes! – ordenou Ares – Estar mais forte não significa que agora suas armas possam matá-lo. Tente pensar estrategicamente.

- Minha estratégia é arrancar os miolos deste monstro, se é que ele algum – retrucou, e partiu animado para o confronto. Mas o demônio tinha, sim, algum nível de inteligência, ainda que destorcida. Percebendo que Alana era uma feiticeira e que seus encantos poderiam afetá-lo, ele usou sua mão esquerda para agredir a mulher. Por instinto, Alana pulou para trás e protegeu o rosto. Escapou das garras, mas o punho da fera a acertou no quadril.

Como não era uma lutadora e desconhecia mesmo os mais elementares movimentos de combate, a feiticeira sofreu um baque tremendo, e foi literalmente jogada longe. Só parou ao chocar-se contra a parede da sala, e mesmo no calor da batalha todos escutaram o arrepiante som abafado do braço da moça se partido ao meio. Ela gritou de dor quando viu a ponta sangrenta do osso saltando para fora da pele.

Zamir, que já preparava um feitiço de combate, anulou sua mágica e correu para prestar os primeiros socorros. Infelizmente, o inimigo era um demônio, invocado ali por um encantamento. Esse tipo de criatura conhece bem a habilidade dos magos, e é por isso que os escolhem sempre como seus alvos prioritários. Não à toa, a fera esqueceu totalmente de Grammal, Ares e Naga e avançou contra Alana e Zamir.

E nesse instante aconteceu o que Ares tanto temia. Milo, o hobbit, sentindo-se terrivelmente responsável por ter iniciado toda aquela confusão, saltou do teto entre Alana e o demônio, e sacou sua faca, pronto para defendê-los. Seria uma cena cômica, não fosse tão trágica: um hobbit empunhando um punhal contra um gigante do Inferno!

Ares resmungou consigo mesmo, porque sabia que não poderia proteger Milo, e que ele seria trucidado, rapidamente.

Vendo aquele hobbit insignificante bloqueando seu objetivo, o demônio o agarrou numa só braçada e o ergueu no ar. Talvez tenha pensado que seria mais fácil engoli-lo, porque se preparou para levá-lo à boca.

Desesperado, Milo abriu sua bolsinha e começou a jogar sobre o monstro tudo o que tinha lá dentro: bolas de gude, um dado, duas velas, um apito e mais algumas bugigangas que havia recolhido durante a viagem. Enquanto isso, Grammal acertou a fera nas costelas, e com sua força fez o inimigo balançar, mas a triste realidade era que, sem um bom feitiço ou armas mágicas, era impossível molestá-lo.

Seja como for que terminasse este combate, ninguém ia poder reclamar com Milo, ou culpá-lo por ter invocado o demônio, pensou Ares. Isso porquê o hobbit não tinha mais a menor chance de sobrevivência. Em dois segundos, seria engolido pela criatura infernal, mastigado pelos dentes vermelhos e digerido em lava fervente. E o pior: nada restava aos seus amigos a não ser assistir passivos àquele horrível espetáculo.

Agora, com Alana ferida, Zamir na linha de frente e os guerreiros sem armas apropriadas à luta, só um milagre salvaria o pobre hobbit da morte certa.

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Conclui no próximo capítulo

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